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E DEPOIS DO ADEUS

Thursday, November 19, 2020

(PARTE I)

“As consequências dos actos estão contidas no próprio acto” - mencionou ela, enquanto esboçava um sorriso.
Ambos sabiam que por mais que lutassem, por mais que se esforçassem, a história iria irremediavelmente afeta-los. O medo do desconhecido era ao mesmo tempo aterrador e aliciante. A força que cada um trazia foi o que originou a faísca. Faísca essa que não era um fogo, mas sim, um mar e um céu. Os seus significados dependiam dos actores. Um vivia com uma passada forte, estável e seguro, sentindo bem a terra por entre seus dedos dos pés. O outro, estendia bem as asas para sentir o ar quente e elevar-se bem alto de onde conseguisse ver o horizonte. Ambos tinham um caminho sem nunca se cruzarem até então.
A sua história era tão comum, quanto era de extraordinária. Do céu acredita-se que se é livre. A verdade é mais cruel do que se consegue ver. O chão por sua vez, ajudava a enraizar a marcha. Afinal, seja a trote rápido, seja lento, era o sustento de todas as indefinições.
As asas nem sempre estiveram abertas e o vôo muito menos era ligeiro. No inicio eram como velas de barco. Fortes e potentes, permitindo deslocar-se como se flutuasse. A brisa quente possibilitava vôos mais longos para locais longínquos. Não foi até ser forçado para fora do ninho que a sequência de acções se tornara irreversível.
O primeiro bater violento para o precipício foi o momento menos assustador a enfrentar. Ao se projectar para o desconhecido, com uma crença inabalável, de fazer e poder tudo que valesse a pena, verificou que o que lhe tinham explicado, não era exacto. A emoção era mais do que uma característica. Era o que lhe originava o bater de coração. A faculdade de discernir a pequena subtileza, a pequena mudança. que era sentir, conferia-lhe a energia para olhar o horizonte com a mesma convicção que olhava a terra e o mar.
Era pouco antes do crepúsculo quando a emoção o desequilibrou. De frente a si, via outro ser voante a parecer. Incrédulo com o que observara, questionava-se o que teria acontecido. Afinal tinha sido esse ser que o ensinara a sentir. De inicio não ligara e não se preocupara.Bastaria um pouco mais de firmeza e uma boa corrente de ar quente para, novamente, se elevar e perscrutar o além. Sonhar com o desconhecido e o incerto era o seu maior e talvez verdadeiro, desejo.
Acreditando que nada de mais puro existia do que o sonho, viajou a muitos locais. Com relativa facilidade em se integrar, fê-lo reconhecer como era não só lícito, como deslumbrante, isto a que chamavam de “viver”. Aproveitou tanto quanto conseguia beber desta fonte de energia inesgotável. Nem sempre o plano era calmo. Teve, surpreendentemente, para a sua tenra idade, mais contratempos que imaginaria. Houve um momento em que se deixou ficar. Não se recorda por quanto tempo, mas foi o suficiente para se acomodar. A sua pureza de fé e de ideais, surgia como um ultraje a quem não acreditava mais. Devido a isso, acabara por sofrer. Uma vez mais mentiram-lhe. A emoção de perda não era agradável e relembrou o que se sucedera. Uma espiral de infortúnios, levaram-lhe, desde então, a olhar por cima da asa. Não descansava, nem confiava. Passou a fitar mais o chão, aquela massa estranha que debaixo dele pairava continuamente.
Uma luz negra aos poucos, ocupava o lugar que antes estava repleto de emoção. Por entre pingos do tempo, o seu bater de asas tornou-se pesado e desconfortável. Passou a fazer da sombra a sua companheira e confidente. Sem notar , e muito menos sem compreender, tornou-se sisudo, desconfiado e muito pouco dado a conversas. Os dias passavam e o seu voar, cada vez mais errante, levava-o para locais inóspitos e perigosos.
A dureza do solo é a primeira memória que diz ter. Mas afinal é a dureza e o cheiro. Desde que se recorda que adora sentir o sol dar-lhe as boas-vindas e o vento as boas-novas. As pernas, inicialmente trémulas, ganhavam cada vez mais certeza. Todos em seu redor ajudavam e presenteavam com novidades distantes. O inicio não fora muito conseguido. Poder-se-ia dizer que o livro ficaria sem ordenação nas páginas. Algo maior, no entanto, entendeu que não seria assim.
À medida que os instantes se sucediam, também a ligeireza do passo aumentava. A habilidade para que todos os momentos fossem agradáveis, atraía todos em seu redor. A conversa era fácil e a ocasião suficiente. As experiências eram em catadupa, como também os ensinamentos. A vontade de experienciar, de absorver, de conhecer, de sentir estava acima de qualquer outro.
De salto em salto, de esforço em esforço, o vento sorria-lhe, o sol abrilhantava o caminho e a chuva limpava a poeira das incapacidades. Sentia-se livre e aí prostrou a sua alma. Tinha especial interesse em observar o céu, sempre que o seu espírito se apaziguava. Questionava-se, muito raramente, como seria voar. Fitava, aqueles, que lhe pareciam seres mágicos e inacessíveis. Curvava-se quando rasavam a superfície. Tudo naquelas formas estranhas a fascinavam. Sem muito entender, notou que nem todos eram iguais. Mas aos seus olhos todos eram incompreensíveis.
Num tenebroso e cinzento dia, sentiu uns olhos no escuro a mirar. A curiosidade, genuína, de quem quer sorver tudo o que existe, origina uma verbalização - “Porque me encaras assim? Vem sentar-te a meu lado” - Nada. Silêncio apenas e um olhar que mais parecia fazer pontaria. Decidiu e aproximou-se. O que vira era surpreendente. Um daqueles mágicos seres, decidira pousar de perto. Deleitou-se e encantou-se com o requinte e perícia do que vislumbrava. Seguiram-se momentos de prosa e de prazer que arrebatavam o chão e faziam levitar. - “Estou a voar! Estou a voar!” - exclamou em viva voz. Nesse mesmo instante um medo avassalador, trespassou-lheo peito. - “Oh! E agora, como faço para voar?!” - Perguntou ao ser mágico. E uma vez mais nada… Silêncio aterrador... Ao observar aquela dança à superfície, as suas asas abriram-se e esvoaçou até encontrar uma confortável posição para examinar o que se passava. Estava cansado e as suas feridas afligiam-no o suficiente para aceitar aquele descanso. Não entendia muito sobre dança, menos ainda sobre “estes bichos” do solo. Aceitou no entanto, que era ali que deveria permanecer.
O desejo e incerteza tomavam conta do seu bico. Não conseguindo mais conter, dispôs-se a comunicar. - “Olá! Porque danças tu?” - Num susto, fechou-se aquela criatura terrestre.- “Quem és tu? Estás aí há muito? És amigo deste outro ser?” - interrogou com voz austera. - “Desculpe! A que se refere? Cheguei há pouco e decidi descansar as minhas penas. Sou amigo de quem? Não entendo!? Está aqui outro terrestre que não veja?” - retorquiu num sereno, ao mesmo tempo que cuidava das chagas. -“Como? Estás a brincar? Este amigo atrás de mim!!!” - e foi nesse momento que ao virar, notou que o que ali tinha estado era um espelho
... (FIM PARTE I)

Sombra

Tuesday, September 2, 2008

A eternidade é o que tenho contigo. Estás em todos os momentos da minha vida. É uma estranha ligação esta a nossa. Não compreendo totalmente a interacção que temos. No entanto, nos momentos difíceis, nos momentos alegres, na tristeza, na felicidade, no meu primeiro filho, nas minhas conquistas, estás sempre ao pé de mim. Acompanhas-me em todas as aventuras da minha vida.
Procuro-te incessantemente, e no entanto, apenas surges quando queres. Escondes-te de mim, como receando o que possa encontrar. Talvez com receio da minha curiosidade. Acredito que seja para te protegeres, do quê, ainda não sei!
Situações há, que te vislumbro por detrás de mim, provavelmente, garantindo que nada me possa atingir. Outras situações há, em que me acompanhas, e ao meu lado moves-te. Suspeito que seja vontade tua de partilhares uma história. Por fim, situações há, em que a minha frente estás, mostrando-me por onde devo circular, apresentando os trilhos, os becos, mas sempre dando liberdade para escolher o meu destino.
Ao espelho olho e de ti nada. Frustrado fico quando não te vislumbro. A verdade é que te conheço, reconheço-te. E por mais que me convença disso, imperfeitamente é como te conheço. Numa luz ténue é como te reconheço. Pressinto-te e ao meu redor procuro, mas nada. De passagem é como a ligação. Não creio que seja uma jaula de interesses ou de afectos. Mas sim uma união inequívoca.
Manifesto, perante o mundo, que nutro por ti o maior carinho, compaixão, frustração, mas sem descurar o facto de que nunca terei contigo mais do que o que tu pretendes. Aguardo impacientemente o próximo instante que contigo possa desfrutar.
Até lá, persisto aqui expectante e curioso.

by Nuno Lourenço

Arbusto

Sunday, August 31, 2008

Poucos eram os que ficavam para observar. O aspecto rude, os contornos espinhosos, o formato não harmonioso como o restante, eram algum dos aspectos mais visivelmente salientados pelos demais, para o facto de não reparem.
O arbusto era dono e senhor de si mesmo, contente por si e pelos outros. Não queria saber da sua aparência, não queria saber da sua rugosidade.
Admirava todo o seu ambiente e feliz sentia-se com o que presenciava. Recebia o calor do sol e não se importava por não ser o elemento mais bonito, muito menos por não ser o alvo das atenções. Crescia livre e espontâneo sem se incomodar com os comentários, de quem passava, como também dos que o rodeavam.
Havia quem o invejava. A segurança transparecida é luz para os olhos de companheiros. Não interessava se verde era ou castanho, a verdade é que o arbusto comunicava com todos os que o rodeavam e, ocasionalmente, com os que por lá deslizavam.
Acontecia por vezes criar bons laços com os transeuntes. A comunicação era o que o arbusto mais prezava. Não interessava se era animal ou vegetal, o que interessava era a experiência. Viandantes de terras longínquas, tipicamente, quedavam perto do arbusto. Admiravam e conversavam entre si, deslumbrados com o fenómeno. Levando o conhecimento de volta para as suas terras.
Haviam homens e mulheres que por lá pairavam. Não admiravam nada, nem vislumbravam nada. A preocupação não era essa. A preocupação não era nenhuma. O arbusto não se incomodava com tal. Para isso, tinha crescido os espinhos. Protegiam-no e fortificavam-no. O arbusto não se sentia só, não se sentia acompanhado, sentia-se aprazido com o vento a assobiar boas novas e com o céu a trazer-lhe novidades ao ouvido. Tudo isto eram certezas que o arbusto tinha.
Um dia uma criança, fascinada que estava com o que via, pergunta aos pais - O que é isto? O que é aquilo no meio do arbusto?
Bem filho, isso não é um arbusto. Chama-se uma roseira. O que estás a ver são rosas. São bonitas filho. - responde a mãe.
A maravilha de quem não tem a mente moldada nem sabe o que vê, questionando tudo e todos, assim é a inocência de uma criança.

by Nuno Lourenço

Rosa (parte I)

Friday, February 22, 2008

Rosa não era o seu verdadeiro nome. Era o nome que ela gostava de usar quando saía. Rosa era uma predadora nata e detentora de uma sensualidade natural difícil de encontrar. Os homens não resistiam ao seu charme felino. Ela não se importava com a atenção que recebia, aliás, fazia de modo a que nenhum homem escapasse. Seduzir e brincar eram dos principais modos de comunicação com os homens. Muitas amigas invejavam-na por ela ter essa naturalidade. Muitas eram também as mulheres que não aceitavam nem o seu comportamento, nem a sua liberdade.
O mundo de Rosa era comum a muitas mulheres. O dia era passado no escritório onde tomava as suas decisões. Rosa trabalhava como advogada num conceituado escritório de advogados. O mundo dela era dominado por homens. Rosa era a primeira mulher a quem fora oferecida sociedade no escritório de advogados. O escritório, até à data da sua entrada, era um negócio de família. Os gerentes reconheceram nela capacidades pouco comuns, tendo demorado pouco tempo até receber a proposta de sociedade.
Rosa apreciava o que fazia durante o dia, mas era à noite que se sentia verdadeiramente livre, ela. Rosa frequentava um núcleo de amizade. Núcleo de amizade esse que exigia a quem o frequentava absoluto secretismo. O secretismo não era perfeitamente respeitado, Rosa conheceu o núcleo pela primeira vez através de uma "amiga".

por Nuno Lourenço

Aniversário

Sunday, February 17, 2008

As lembranças surgiam do nada, à velocidade da satisfação. Não tinha explicação, mas o que sentia era maior do que podia aguentar. Não existiam remorsos, não existiam dúvidas. Tinha a plena consciência da pessoa que era e da vida vivida. A alegria era natural naquele instante, como era também a tristeza. Ali de fronte daquelas pessoas recordava-se de acontecimentos passados, uns agradáveis, outros menos agradáveis, ou mesmo desagradáveis. Todos estavam ali por ele.

- Que noite! Que bonita noite está hoje. - disse ele.
- Perante vós, pergunto-me, "Que raio estarão aqui a fazer? Não terão nada mais interessante a fazer?".
- Sei que estão aqui para celebrar o meu aniversário. Sei também que estão aqui por afecto. E por essa razão agradeço-vos.
- Esta festa não é a minha festa. Esta festa é para vós.
- Agrada-me ter-vos aqui. Cada cara que vejo é uma recordação. Não tenho como dizê-lo em palavras, o quanto me sinto feliz por partilhar este momento convosco.
- A única maneira que tenho é, "Obrigado! Obrigado por terem partilhado a vossa vida comigo".
- Organizei esta festa, não para celebrar o meu aniversário, mas para celebrar o convívio entre os meus amigos e família.
- Obrigado.
- Agora música, e quero ver todos a divertirem-se.

Ao início ficaram espantados pelo discurso. Questionando-se se aquele seria o modo que ele tinha encontrado para se despedir deles. A verdade é que ninguém sabia. Nem amigos íntimos, nem família. Vendo-o divertir-se, dançando, e cantando, continuaram a divertir-se com a festa que ele organizara. Apenas uma. Apenas ela não apreciara o que ouvira. Estava convicta de que ele dissera mais do que fora dito. Ela temia o pior, que ele estivesse a esconder algo.
Cruzaram olhar. Ele dirige-se até ela. Enquanto atravessa o salão, seus olhos comunicam. Ele vê-a como flor adocicada que fizera brilhar sua vida. Ela teme que ele esteja a despedir-se. Suas mãos beijam-se, seus corpos cumprimentam-se, seus olhos dialogam, os lábios encontram-se naquela noite e o beijo é a certeza.

- Que estavas tu a dizer a pouco? - pergunta ela assustada.
- O que ouviste. - responde-lhe ele.
- Não. Estavas a querer dizer mais. Por acaso tens algo para me contar? - diz ela, já tremendo.
- Porque estás assim? - questiona ele - Não estejas preocupada. Não me vou embora. Não tenho nenhum problema.
Ela escuta-o, mas custa-lhe acreditar. Uma lágrima escorre-lhe pelo rosto. Ele beija-a na face, parando a lágrima.
- Sabes que és para mim importante! Que gosto de ti! - afirma ele. - Anda comigo. Precisas apanhar ar!

Ambos vão até à varanda. Daí era possível ver a lua. Estava lua cheia e o seu reflexo sobre o rio estendia-se até quase à varanda.

- Tenho tanto medo de te perder! - confidencia ela.
- Mas porquê? Estou aqui ao teu lado. Não tenhas medo. - diz ele, confortando-a.
- Prometes-me que se algo estiver mal... - diz ela.
- Cccchh! - diz ele - Não tens nada a recear. Eu amo-te! Quero-te! És minha mulher e não há nada que alterará isso.
- Obrigado meu amor. - retorquiu ela.

E assim ficaram os dois, na varanda, a música no fundo, observando a lua beijando o rio e sorrindo-lhes, cuidando o seu amor.

- Feliz aniversário. - diz ela.
- Beija-me, meu amor. - responde-lhe ele.

por Nuno Lourenço

Absoluta incoerência coerente

Monday, February 11, 2008

Na manhã seguinte esses mesmos empregados e contabilistas estariam no meio da multidão com as suas cabeças muito bem penteadas atiradas para trás, estonteados por não terem dormido, mas sóbrios e com gravatas a ouvirem a multidão à volta deles a perguntar quem teria feito aquilo e a polícia a gritar para toda a gente fazer o favor de recuar, já, no preciso instante em que a água corria para fora do centro partido e fumegante de cada um daqueles olhos enormes.
...
Os cabeçalhos:
Criado Perturbado Confessa Contaminar Comida.
...
E eu que costumava ser uma pessoa tão simpática.
...
O melhor tipo de colagénio é a tua própria gordura, chupada das tuas coxas, tratada, refinada e voltada a injectar nos teus lábios. Ou noutro sítio qualquer. Este tipo de colagénio dura.
...
Estou vestido. Enfio a mão no bolso e apalpo.
Estou completo.
Assustado, mas intacto.
...
Aqui em cima, nos quilómetros de noite entre as estrelas e a Terra, sinto-me como um desses animais do espaço.
Cães.
Macacos.
Homens.
Limitas-te a fazer o teu trabalhinho. Puxar uma alavanca. Carregar num botão. A verdade é que não sabes nada do assunto.

Pequeno-almoço

Monday, January 28, 2008

Estava ainda na cama e levanto-me meio ensonado. A campainha já deveria estar a tocar à algum tempo. Levanto-me não convencido e abro a porta. Do outro lado estavas tu, e diga-se a bom de verdade, com uma frescura deliciosa. Entras sem dizer nada. Eu volto para o quarto, a noite anterior tinha sido esgotante. Segues-me até ao quarto e sem tempo a perder empurras-me para cima da cama. Vinhas com uns sapatos de salto alto pretos, umas meias pretas lisas semi transparentes e um casaco que te cobria até aos joelhos.
Ali deitado sobre a cama fico, mirando-te enquanto tiras o casaco. Por baixo do casaco tinhas lingerie, apenas. Lingerie de renda preta com um cinto de ligas. O meu sexo entusiasma-se, não escondendo a vontade. Sem esperares debruçaste sobre a cama até ficares por cima de mim. Não esperas por nada, a tua sede estava no auge. Com os dentes tiras-me as cuecas e o meu sexo tenta agredir-te. Sorris e comentas - "O menino fez a barba hoje, que bonito!" - Estava completamente intumescido e tu de imediato o recebes na boca. Desta vez nem beijos, nem carícias, como se os teus lábios, a tua boca ansiavam por recebê-lo.
Afago-te a cabeça enquanto te delicias, puxo-te para mim e beijo-te. Tentas voltar, agora sou eu quem te deita sobre a cama. Beijo-te e vejo que estas molhada. Com uma mão tiro-te o soutien e com a outra acaricio-te o sexo. Afago-te e estimulo-te o clitóris. Tiro-te as cuecas enquanto te beijo as coxas. Beijo-te e lambo-te a vulva. Chupo-te, lambo-te, beijo-te e recebo-te quando-te te vens. A manhã continua e nós também.
por Nuno Lourenço

Carta de um suicida

Tuesday, January 22, 2008

Não. Já me perguntei se seria possível. Não. Não. Não quero mais viver. Não faz sentido. Para quê? Existe um tanto que consigo aguentar. Não faz sentido. Não quero mais. O martírio é já uma constante. Já não sei o que é ser feliz. Não há instante algum que o sinta. Reformulo. Já não sei o que é estar contente. já o esqueci. Já não sei o que é sorrir. Perdi o caminho. Não me lembro. Por mais que procure, por mais que vasculhe, não tenho recordações de momentos alegres. Tudo parece pertencer a outra vida. É um suplício, um tormento, um castigo, cada dia que acordo. Abro os olhos porque não posso dormir para sempre. Quero descansar. Quero nunca mais acordar. Quero sossego. É involuntário é voluntário.
Afinal quem conheço eu?! Não faço ideia. Dou por mim a questionar-me se fosse/desaparecesse quem sentiria a minha falta?? Provavelmente ninguém daria por isso. Talvez alguém, de certeza o senhorio seria essa pessoa. Ando no meio de gentes e não reconheço ninguém, não me reconheço. Conto apenas mentiras de acontecimentos inexistentes só para poder dizer a mim mesmo "hoje conversei". Não quero saber mais. Não quero preocupar-me mais. Não faz sentido. Não vale a pena.
não há motivação. Não decifro a razão. Talvez seja por nunca ter sido realmente feliz, por nunca ter realmente sentido. Olho em redor vejo pessoas. Pessoas contentes, felizes. Como é possível, pergunto-me. Vejo casais abraçados, trocando juras de amor. Vejo o prazer nos olhos de amantes. Vejo o orgulho dos pais deslumbrados com suas crianças. Avós deliciados com seus netos. Pais entretidos com os primeiros passos, o primeiro abraço, dos seus filhos. Por um lado pergunto-me como será estar assim. Por outro não quero saber. Há apenas um tanto que aguento. Irrita-me ver esta gente contente.
Escrevo esta carta não sei porque razão. Talvez para que um dia seja lida. Não digo muito, provavelmente até nem esteja a dizer nada, mas já não consigo entender o que dizem as pessoas, não quero saber mais, CHEGA. Talvez a escrever para aperceber-me que realmente tenho de resolver.
Não quero mais acordar. Está resolvido...

por Nuno Lourenço

Sonho (v2)

Monday, January 7, 2008

Sonhei um sonho sonhado,
Daqueles onde tudo acontece e nada é real.
Sonhei um sonho acordado,
Alimentando-me no deserto da suposição do leal.
Vaguei entre vivos e mortos, céu e inferno.
Sorvendo cada resposta como elixir,
Questionando-me com o silêncio sepulcral.
Perante tamanha falésia ideal,
Depositei o saber no ancião.
Levantei-me, caí, levantei-me, caí.
Vejo agora no gozo de satisfação
Onde o desprezo é rei e senhor,
Que sonho sonhado,
Ou sonho acordado,
A alma me elevou.
Acabo sentindo-me agradado,
Repleto, saciado,
Não por ter sonhado,
Mas por ter sentido.
Ajuda-se quem quer ser ajudado
Não se salva ninguém.
Sonho, ficção, fantasia, visão,
Sinónimos de uma aspiração.

por Nuno Lourenço

1457

Friday, January 4, 2008

Faz hoje 1457 dias que não te vejo, que não nos falamos. Nem acredito que tudo chegou a este termo. Pior pensando no número fico estupefacto, incrédulo com a sua dimensão. Não há dia em que em ti não pense. Como é possível permitir que tudo atinja esta dimensão. Como é possível que tenhas permitido que tudo assuma esta extensão.
Sim é verdade, errei muito no passado. Sim é verdade, cometi muitas injustiças no passado. Sim é verdade, fiz-te sofrer no passado. Mas sejamos sinceros, nem tudo é culpa minha, afinal tu também foste parte dos momentos, das situações. Não fui o único a errar, a cometer injustiças, a causar sofrimento. Tu, sim tu, também tiveste a tua dose. Não é disso que quero falar, águas passadas são águas passadas. Quero dizer-te que quero olhar nos olhos do futuro e ver-te. Não quero mais imaginar o que será, o que poderia ser, o que seria. Não quero mais "ses". Quero-te de volta na minha vida. Sabes bem que pouco sentido faz esta nossa separação. Sabes bem que nenhum sentido faz não nos vermos mais. Sabes bem que te amo incondicionalmente. Não quero discutir sobre o que foi "eu" ou "tu". Quero-te de volta, aliás exijo-te de volta. Tu és parte de mim, tal como eu sou parte de ti. O sofrimento causado pela nossa separação não inclui apenas nós dois, afecta todos os que connosco partilham as nossas vidas.
Não é nenhum esforço que te estou a pedir. Não o pode ser. Todas as noites dou por mim a olhar o vazio. À porta não apareces tu. Da janela não te vislumbro. Pelas ruas deambulo sem nunca te encontrar. Não conheço os teus amigos, não sei por onde andas, onde trabalhas. Apenas sei que não há maneira de poder viver assim sem ti.
Escrevo esta carta para apaziguar a dor que sinto. Não que ela diminua, não que ela desapareça, não que ela se esfume. A amargura está presente e estará sempre presente até te ter de volta. Não te peço muito, apenas te peço que me deixes voltar a fazer parte do teu mundo. Não espero que me recebas de braços abertos. Aliás minto, espero que tudo possa ser como antes. Amo-te tanto, tu foste, tu és e sempre serás o que melhor me aconteceu. Acredita em mim, acredita nestas palavras, não estou a mentir. Amo-te incondicionalmente. Tu és tudo para mim. Como desejo voltar a estar contigo.
Espero que esta carta vá parar às tuas mãos. Espero que reconsideres e que possamos nos encontrar.

Beijos deste teu pai que te adora.

por Nuno Lourenço

Talvez sim, talvez uma vez, vamos

Thursday, December 20, 2007

Descansado estava no meu local de trabalho entretido com o que tinha a fazer. Concentrado estava no trabalho em mãos. Assim do nada, uma mensagem.
- Oh pá, mas que coisa, hoje isto não pára?! - para espanto meu a mensagem era de alguém com quem já não tinha contacto para uns bons meses.
Distraio-me com a mensagem, de início confesso que nem prestei atenção ao que estava escrito. Quando houve oportunidade para ler a sério a mensagem fiquei admirado. Ora tu me rejeitavas, ora tu me desejavas. Esta mensagem era sem dúvida uma das últimas.
Como habitual, dizias tudo por entrelinhas, não sei se por vergonha de afirmares determinadas sensações, se por embaraço do desejo.
Lá fui ter contigo para saber o que se passava. Tu sempre adoraste quando apareço com um olhar de maravilhado, como de uma criança que pela primeira vez descobre algo de bom. Tu sempre adoraste, também, o modo como eu fingia não entender o que querias. Mas desta vez estranhei. Não sabia muito bem ao que ia.
Bati a tua porta. Demoraste a abrir, como que ainda não muito convencida do desejo súbito. A conversa como sempre era um álibi para aliviares, relaxares, das sensações. Sem estares a espera mesmo antes de começares a falar beijei-te. O vigor e a vontade foram tal que rapidamente te convenceste. A vontade e o desejo eram mútuos. Facilmente deleitamos-nos com o gosto de cada um, com as carícias, toques, cheiros um do outro. Excitados como estávamos fomos embrulhando-nos um no outro, entre mãos aqui, beijos acolá, íamos explorando. Dentro de ti estava como dantes nunca tinha estado. Não sei pelo momento, se pelos sussurros, se pelos suspiros, se pelo desejo, o certo é que não conseguíamos parar. Os orgasmos seguiam-se uns atrás dos outros, numa sucessão desenfreada, como se não houvesse amanhã.
Por fim ficamos apenas abraçados, saboreando o suor um do outro. O cheiro era especial, era de prazer, o sabor não era apenas salgado era diferente, era de satisfação. Assim ficamos trocando pequenas carícias e beijos, bem agarrados um noutro.

por Nuno Lourenço

Amanhã

Tuesday, November 20, 2007

Porque caíste tu? Porque cortaste as tuas asas? O que te levou a resignares o que tinhas de lindo? Porque renunciaste tu o teu âmago? Porque choras assim? Deixaste de acreditar?
Não sofras. Ergue-te para veres o sol. Não, não é um novo dia que está a nascer. É o mesmo. Apenas tem cores diferentes. Olha em frente e deslumbra-te.
Mas espera não estás a chorar. Não estás a sofrer. O que é então? Não entendo? Afinal que fizeste tu? Queres dizer-me o quê? Não compreendo a tua linguagem? Não percebo o teu diálogo? É numa língua muda.
Falas e gesticulas, mas não consigo acompanhar-te. O quê? Não. Não pode! Mas tu chamas-me? Que queres tu de mim? Que terás tu para me oferecer? Não sei o que és?
Levantas os olhos e perscrutas-me como se fosses parte de mim. Finalmente vejo. Tu és. Tu és. Estivesses sempre aqui comigo. Nunca te vi. Mas tu és minha. És o meu anjo da guarda. És linda. O novo dia que virá será sem dúvida o início da continuidade da nossa história.

por Nuno Lourenço

Banco de jardim

Sunday, November 18, 2007

Estavas sentado observando o que se passava em tua volta. Nada em particular, tudo em especial. Contigo trazias sempre o resultado de uma vida. Interroguei-me, vendo, imaginando, o que te levara a estares assim. No banco de jardim estavas como alguém que de direito tinha conquistado o seu espaço. Perguntei-me o que tanto conversavas tu com a pessoa inexistente a teu lado.
Semblante marcado com a história de acontecimentos passados, cravados na memória recorrente. Tantas eram as hipóteses. Qualquer delas perfeitamente possível. Num saco de plástico trazias a tua despensa, noutro a acumulação da tua vida, para alguns quinquilharias, sobre as costas tinhas dois cobertores.
Decidi ir ter contigo, falar, aprender, sorver um pouco de ti. Sentei-me a teu lado e iniciei a conversação, pensando, nem sei porquê, que poderia ajudar de algum modo. Nada respondias até que olhas para mim e dizes - "A história é como os homens querem que os acontecimentos sejam registados, a memória é como eles realmente aconteceram".

por Nuno Lourenço

A lenda do Machim

Wednesday, November 7, 2007

Machim era um jovem cavaleiro inglês, forte e destemido, que se apaixonou por uma menina da alta nobreza chamada Ana de Arfet. Ela correspondeu inteiramente ao seu amor. Não podiam casar porque não pertenciam ao mesmo grupo social. Namoravam portanto em segredo.
Quando os pais de Ana descobriram ficaram furiosos e quiseram pôr fim ao romance. Sendo pessoas importantes, conseguiram que o próprio rei de Inglaterra obrigasse a filha a casar com um fidalgo de alta linhagem.
Desesperado, Machim elaborou um plano de fuga. Quando tinha tudo preparado mandou avisá-la, pedindo que fosse ter com ele ao porto da cidade de Bristol. Ana de Arfet ficou radiante e fugiu de casa à noitinha levando consigo apenas um crucifixo.
Felicíssimos, caíram nos braços um do outro. Mas não houve tempo a perder! O navio que os levaria para França estava ancorado ao largo. Se queriam fugir sem ninguém dar por isso, tinham que aproveitar a ausência da tripulação.
Meteram-se num bote com alguns companheiros e lá foram remando com mil cuidados para não fazerem barulho. Quando subiram a bordo apressaram-se a soltar as velas e partiram cheios de esperança num futuro risonho. O sonho porém não durou muito! Pouco depois levantou-se um temporal e só então perceberam a falta que lhes fazia um piloto experiente. Arrastados pelo vento, andaram à deriva e perderam-se no mar.
Dias depois avistaram uma terra brava, coberta de arvoredo, que os deixou espantados, confusos. Que terra seria aquela? Aparentemente não vivia ali ninguém. Resolveram então desembarcar. Ana pediu que a levassem porque se sentia doente de tão enjoada. Fizeram-lhe a vontade.
O sítio onde tinham ido parar não podia ser mais acolhedor. Havia água com abundância, frutas silvestres e até um abrigo natural! Nessa noite dormiram junto à praia dentro de uma árvore fantástica. O tronco era enorme, oco e tão espaçoso como uma cabana.
Apesar de tudo a pobre menina não se recompôs. A sorte também não ajudou. Uma tempestade arrastou a nau para longe e deixou-os apenas com um bote a remos! Receando não poder regressar nunca, Ana entregou-se à doença e à tristeza. Morreu pouco tempo depois.
Machim, louco de sofrimento, disse aos outros que tentassem alcançar o continente no barco a remos porque ele ficaria ali junto da sua amada. Os amigos rodearam-no de carinho e compreensão mas de pouco serviu. Alguns dias depois o jovem cavaleiro morreu também.
Antes de partirem, os companheiros sepultaram-nos lado a lado. Assim ficariam juntos para todo o sempre!

História muito bonita, que muito se pode retirar para histórias dos dias de hoje. Acontecendo a amigos(as), claro está sem o final trágico, ou connosco próprios. Imortais serão sempre estas histórias de amor e ódio. Já agora:

O lugar que serviu de palco a esta linda e triste história de amor viria a chamar-se Machico na ilha da Madeira...

I see

Monday, October 29, 2007

I see the moon
And the moon sees me
The moon sees the one i need

I see the sun
And the sun sees me
The sun shines with the love i feel

I see the sea
And the sea sees me
The sea gently embraces thee

I see the sky
And the sky sees me
The sky is no limit for what will be

I see the earth
And the earth sees me
The earth will take care of me

by Nuno Lourenço

Quero ser

Wednesday, October 24, 2007

Quero ser a folha que é levada ao sabor do teu vento
Quero ser as raízes da tua árvore
Quero ser a luz do teu sol
Quero ser o peixe que nada no teu mar
Quero ser as labaredas do teu fogo
Quero ser a flor da tua planta
Quero ser o farol do teu mar revolto
Quero ser as estrelas do teu céu
Quero ser os alicerces da tua construção
Quero ser a segurança do teu olhar
Quero ser as palavras do teu silêncio
Quero ser o espelho da tua alma
Quero ser o sonho que em ti surge
Quero ser a tua partida e a tua chegada
Quero ser eu e tu
Sou grão de areia no deserto

por Nuno Lourenço

Delícias e prazeres (parte 2)

As suas mãos conduziam a vontade do corpo e do espírito. As carícias cada vez mais concentravam-se no sexo. A dado ponto ela rende-se ao desejo e à vontade, e afaga o sexo e os seios ao mesmo tempo. O desejo domina-a por completo. Toda ela geme enquanto se amima. Em movimentos verticais acaricia o sexo, intervalando com movimentos circulares, ao mesmo tempo que afaga o seio. O desejo é imenso. Enquanto ela se acaricia eu já não tinha meio de conseguir realizar nenhum esboço, nada. O sexo começa a intumescer-se. Eu próprio rendo-me ao desejo e à vontade. Levanto-me da poltrona e dirijo-me até ela. Ela fica contente, pois repara no meu sexo. De início apenas fico ali sentado a observá-la enquanto ela se toca. Beijo-lhe inicialmente a barriga e sigo com a língua até ao pescoço. Beijo-lhe os lábios intensamente e encaminho-me para o sexo, onde contacto com a satisfação deliciando-me por momentos.
Num rasgo de fulgor pego nela e levo-a até à poltrona onde a deixo. Ela fica com os joelhos em cima da poltrona. Em seguida entrego o meu sexo ao sexo dela. Enquanto penetro no seu sexo e lhe afaga as costas ela arqueia-se sobre a poltrona para me ver. Olha-me com tal gosto que sinto-a dentro de mim. Ela pára o que estávamos a fazer e recebe o meu sexo na sua boca deliciando-se por momentos. Em seguida levanta-se da poltrona e joga-me sobre para a cama. Senta-se por cima e decide comandar os acontecimentos. Assim ficamos até nos satisfazermos por completo.

by Nuno Lourenço

Céu e inferno

Thursday, October 11, 2007

Um guerreiro samurai, conta uma velha história japonesa, certa vez desafiou um mestre Zen a explicar o conceito de céu e inferno.
Mas o monge respondeu-lhe com desprezo:
- Não passas de um rústico não vou desperdiçar meu tempo com gente da tua laia!
Atacado na própria honra, o samurai teve um acesso de fúria e, sacando a espada da bainha, berrou:
- Eu poderia te matar por tua impertinência.
- Isso - respondeu calmamente o monge.
- É o inferno.
Espantado por reconhecer como verdadeiro o que o mestre dizia acerca da cólera que o dominara, o samurai acalmou-se, embainhou a espada e fez uma mesura, agradecendo ao monge a revelação.
- E isso - disse o monge.
- É o céu.

Dor

Wednesday, October 10, 2007

Oh lança que me trespassas,
Oh punhal que me dilaceras,
Oh cravo que me torturas,
Oh dor.
Porque me consomes assim?
Porque não terminas de uma vez?
Porque te prazenteias com o meu sofrimento?
Oh fogo que me dissipas,
Oh chama que me desfazes,
Oh flama que me destróis,
Oh suplício! Oh tormento!
Porque não me extingues?

Porque não me derrubas?
Porque me arruinas assim?
Oh dor.
Leva-me para onde possa acabar,
Para onde tudo será fim,
Morri.

por Nuno Lourenço

Soneto do Pau Decifrado

Tuesday, October 9, 2007

É pau, e rei de paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser árvore de figo,
Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro:

Verga, e não quebra, como o zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro, tem o embigo;
Brando às vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro:

À roda da raiz produz carqueja:
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!

Para carvalho ser falta-lhe um U;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar meta-o no cu.

de Manuel Maria de Barbosa l´Hedois Du Bocage