Aniversário

Sunday, February 17, 2008

 

As lembranças surgiam do nada, à velocidade da satisfação. Não tinha explicação, mas o que sentia era maior do que podia aguentar. Não existiam remorsos, não existiam dúvidas. Tinha a plena consciência da pessoa que era e da vida vivida. A alegria era natural naquele instante, como era também a tristeza. Ali de fronte daquelas pessoas recordava-se de acontecimentos passados, uns agradáveis, outros menos agradáveis, ou mesmo desagradáveis. Todos estavam ali por ele.

- Que noite! Que bonita noite está hoje. - disse ele.
- Perante vós, pergunto-me, "Que raio estarão aqui a fazer? Não terão nada mais interessante a fazer?".
- Sei que estão aqui para celebrar o meu aniversário. Sei também que estão aqui por afecto. E por essa razão agradeço-vos.
- Esta festa não é a minha festa. Esta festa é para vós.
- Agrada-me ter-vos aqui. Cada cara que vejo é uma recordação. Não tenho como dizê-lo em palavras, o quanto me sinto feliz por partilhar este momento convosco.
- A única maneira que tenho é, "Obrigado! Obrigado por terem partilhado a vossa vida comigo".
- Organizei esta festa, não para celebrar o meu aniversário, mas para celebrar o convívio entre os meus amigos e família.
- Obrigado.
- Agora música, e quero ver todos a divertirem-se.

Ao início ficaram espantados pelo discurso. Questionando-se se aquele seria o modo que ele tinha encontrado para se despedir deles. A verdade é que ninguém sabia. Nem amigos íntimos, nem família. Vendo-o divertir-se, dançando, e cantando, continuaram a divertir-se com a festa que ele organizara. Apenas uma. Apenas ela não apreciara o que ouvira. Estava convicta de que ele dissera mais do que fora dito. Ela temia o pior, que ele estivesse a esconder algo.
Cruzaram olhar. Ele dirige-se até ela. Enquanto atravessa o salão, seus olhos comunicam. Ele vê-a como flor adocicada que fizera brilhar sua vida. Ela teme que ele esteja a despedir-se. Suas mãos beijam-se, seus corpos cumprimentam-se, seus olhos dialogam, os lábios encontram-se naquela noite e o beijo é a certeza.

- Que estavas tu a dizer a pouco? - pergunta ela assustada.
- O que ouviste. - responde-lhe ele.
- Não. Estavas a querer dizer mais. Por acaso tens algo para me contar? - diz ela, já tremendo.
- Porque estás assim? - questiona ele - Não estejas preocupada. Não me vou embora. Não tenho nenhum problema.
Ela escuta-o, mas custa-lhe acreditar. Uma lágrima escorre-lhe pelo rosto. Ele beija-a na face, parando a lágrima.
- Sabes que és para mim importante! Que gosto de ti! - afirma ele. - Anda comigo. Precisas apanhar ar!

Ambos vão até à varanda. Daí era possível ver a lua. Estava lua cheia e o seu reflexo sobre o rio estendia-se até quase à varanda.

- Tenho tanto medo de te perder! - confidencia ela.
- Mas porquê? Estou aqui ao teu lado. Não tenhas medo. - diz ele, confortando-a.
- Prometes-me que se algo estiver mal... - diz ela.
- Cccchh! - diz ele - Não tens nada a recear. Eu amo-te! Quero-te! És minha mulher e não há nada que alterará isso.
- Obrigado meu amor. - retorquiu ela.

E assim ficaram os dois, na varanda, a música no fundo, observando a lua beijando o rio e sorrindo-lhes, cuidando o seu amor.

- Feliz aniversário. - diz ela.
- Beija-me, meu amor. - responde-lhe ele.

por Nuno Lourenço

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