Banco de jardim

Sunday, November 18, 2007

 

Estavas sentado observando o que se passava em tua volta. Nada em particular, tudo em especial. Contigo trazias sempre o resultado de uma vida. Interroguei-me, vendo, imaginando, o que te levara a estares assim. No banco de jardim estavas como alguém que de direito tinha conquistado o seu espaço. Perguntei-me o que tanto conversavas tu com a pessoa inexistente a teu lado.
Semblante marcado com a história de acontecimentos passados, cravados na memória recorrente. Tantas eram as hipóteses. Qualquer delas perfeitamente possível. Num saco de plástico trazias a tua despensa, noutro a acumulação da tua vida, para alguns quinquilharias, sobre as costas tinhas dois cobertores.
Decidi ir ter contigo, falar, aprender, sorver um pouco de ti. Sentei-me a teu lado e iniciei a conversação, pensando, nem sei porquê, que poderia ajudar de algum modo. Nada respondias até que olhas para mim e dizes - "A história é como os homens querem que os acontecimentos sejam registados, a memória é como eles realmente aconteceram".

por Nuno Lourenço

2 dizeres sobre o mundo...:

Pi said...

E nem sempre o que fica registado é aquilo que realmente aconteceu... Muitas vezes é a memória que nos atraiçoa... outras (penso que a maioria) guardamos o que realmente gostaríamos que tivesse acontecido...

BrainShutdown said...

Nem mais :) Cada observador fica com memorias diferentes de um mesmo acontecimento.
Isto por cada um estar a ser influenciado pelas suas próprias sensações, sentimentos e pensamentos na altura. O que fica então gravado é uma amalgama compacta de toda essa informação provocando um maior afastamento da nossa memória em relação aos demais. :)