Carta de um suicida

Tuesday, January 22, 2008

 

Não. Já me perguntei se seria possível. Não. Não. Não quero mais viver. Não faz sentido. Para quê? Existe um tanto que consigo aguentar. Não faz sentido. Não quero mais. O martírio é já uma constante. Já não sei o que é ser feliz. Não há instante algum que o sinta. Reformulo. Já não sei o que é estar contente. já o esqueci. Já não sei o que é sorrir. Perdi o caminho. Não me lembro. Por mais que procure, por mais que vasculhe, não tenho recordações de momentos alegres. Tudo parece pertencer a outra vida. É um suplício, um tormento, um castigo, cada dia que acordo. Abro os olhos porque não posso dormir para sempre. Quero descansar. Quero nunca mais acordar. Quero sossego. É involuntário é voluntário.
Afinal quem conheço eu?! Não faço ideia. Dou por mim a questionar-me se fosse/desaparecesse quem sentiria a minha falta?? Provavelmente ninguém daria por isso. Talvez alguém, de certeza o senhorio seria essa pessoa. Ando no meio de gentes e não reconheço ninguém, não me reconheço. Conto apenas mentiras de acontecimentos inexistentes só para poder dizer a mim mesmo "hoje conversei". Não quero saber mais. Não quero preocupar-me mais. Não faz sentido. Não vale a pena.
não há motivação. Não decifro a razão. Talvez seja por nunca ter sido realmente feliz, por nunca ter realmente sentido. Olho em redor vejo pessoas. Pessoas contentes, felizes. Como é possível, pergunto-me. Vejo casais abraçados, trocando juras de amor. Vejo o prazer nos olhos de amantes. Vejo o orgulho dos pais deslumbrados com suas crianças. Avós deliciados com seus netos. Pais entretidos com os primeiros passos, o primeiro abraço, dos seus filhos. Por um lado pergunto-me como será estar assim. Por outro não quero saber. Há apenas um tanto que aguento. Irrita-me ver esta gente contente.
Escrevo esta carta não sei porque razão. Talvez para que um dia seja lida. Não digo muito, provavelmente até nem esteja a dizer nada, mas já não consigo entender o que dizem as pessoas, não quero saber mais, CHEGA. Talvez a escrever para aperceber-me que realmente tenho de resolver.
Não quero mais acordar. Está resolvido...

por Nuno Lourenço

1 dizeres sobre o mundo...:

Louca said...

A minha alma, Se sorrio nasce, Se choro morre...
Não há paz que me sossegue
Não há esplendor que eu não seja,
Que não fui e que não brilhe!
Algo que brilha, mas não se vê!
Algo que dói, mas já não se sente!
Algo que se aceita, mas não se perdoa!
Como azáleas podres, No meu coração reina,
Mágoa distante, que já lá vai, mas agora se sente...
Reina amor impossível como um cão ao abandono...
...que ainda vive, e sempre sofre...
Num olho vejo, no outro esqueço!
Uma mão sente, a outra consente!
Andar por andar, correr por fugir?
Perdi a vontade de voltar,
Que ainda reina, mas adormecida...  
Para quê voltar ao mundo real?
Se agora para mim, num viver para morrer,
Correr por fugir, num sobressalto irrequieto,
Me pergunto, sem descanso, afinal o que é a vida?
É a espera de uma morte,
Deixando para trás mágoa e solidão?
Num perguntar já respondido, desde o dia em que nasci...
Parece mas não é ou, não é mas parece,
Vida: aquilo que um sonho não consente!
Sofrer!

1994- Louca