Um guerreiro samurai, conta uma velha história japonesa, certa vez desafiou um mestre Zen a explicar o conceito de céu e inferno.
Mas o monge respondeu-lhe com desprezo:
- Não passas de um rústico não vou desperdiçar meu tempo com gente da tua laia!
Atacado na própria honra, o samurai teve um acesso de fúria e, sacando a espada da bainha, berrou:
- Eu poderia te matar por tua impertinência.
- Isso - respondeu calmamente o monge.
- É o inferno.
Espantado por reconhecer como verdadeiro o que o mestre dizia acerca da cólera que o dominara, o samurai acalmou-se, embainhou a espada e fez uma mesura, agradecendo ao monge a revelação.
- E isso - disse o monge.
- É o céu.
Thursday, October 11, 2007
Wednesday, October 10, 2007
Oh lança que me trespassas,
Oh punhal que me dilaceras,
Oh cravo que me torturas,
Oh dor.
Porque me consomes assim?
Porque não terminas de uma vez?
Porque te prazenteias com o meu sofrimento?
Oh fogo que me dissipas,
Oh chama que me desfazes,
Oh flama que me destróis,
Oh suplício! Oh tormento!
Porque não me extingues?
Porque não me derrubas?
Porque me arruinas assim?
Oh dor.
Leva-me para onde possa acabar,
Para onde tudo será fim,
Morri.
por Nuno Lourenço
Tuesday, October 9, 2007
É pau, e rei de paus, não marmeleiro,
Bem que duas gamboas lhe lobrigo;
Dá leite, sem ser árvore de figo,
Da glande o fruto tem, sem ser sobreiro:
Verga, e não quebra, como o zambujeiro;
Oco, qual sabugueiro, tem o embigo;
Brando às vezes, qual vime, está consigo;
Outras vezes mais rijo que um pinheiro:
À roda da raiz produz carqueja:
Todo o resto do tronco é calvo e nu;
Nem cedro, nem pau-santo mais negreja!
Para carvalho ser falta-lhe um U;
Adivinhem agora que pau seja,
E quem adivinhar meta-o no cu.
de Manuel Maria de Barbosa l´Hedois Du Bocage
O desejo maior de toda a gente
é ter um maior bem, de maior dura;
e longe, a procurá-lo, se amargura
tendo-o às vezes tão perto, e tão presente!
Deve ter sempre o coração consciente
quem se aventure a procurar ventura.
Deve sempre saber o que procura
para que não procure inutilmente.
O sonho que em mim arde e em mim se expande
há-de chegar ao fim, há-de ser grande!
O meu instinto é que o presente e diz...
Sei onde vou e a parte que me cabe!
E há tanta, tanta gente que não sabe
o que lhe falta para ser feliz!
de Virgínia Vitorino
Monday, October 8, 2007
A dor é imensa.
Cada vez que penso que me alistei para isto, a dor aumenta. Estou cansado. Esta guerra parece não ter fim à vista. Depois deste tempo todo já não me recordo porque viemos para esta terra combater. Os meus companheiros estão esgotados. Diminuem de cada vez que saímos para combate. O suor, o sangue e o cheiro já estão entranhados de tal modo que nem o banho consegue tirar. A moral nem sequer existe.
A arma pesa mais e mais. As mãos tremem como folhas ao vento. Não consigo segurar com firmeza nada. Nada faz sentido. Perturba-me a ideia de ter de sair para enfrentar o inimigo. A comida sabe a palha. A água queima a cada gole. Vou ter de ir mais uma vez, olhar para as vidas que extermino.
Despeço-me queridos pais, queridos amigos, pois sei que não vou voltar. Não vou voltar o mesmo. Não vou voltar como era. Não sei sequer se volto inteiro. Menos sei se voltarei. Só quero que termine, de uma maneira ou de outra. Quero ser livre outra vez. Quero ir comprar o jornal sem estar preparado para a confrontação. Quero que termine. Quero que termine.
Não me levem a mal por vos escrever assim. Quero-vos muito bem. Têm sido a minha força, o meu farol, o meu querer, a minha vontade. Não me levem a mal. Quero-vos muito bem.
Adeus.
by Nuno Lourenço
Saturday, October 6, 2007
Não venho aqui falar sobre os proveitos, deveres e direitos. Muito menos venho expressar os meus ideias políticos.
Venho sim dizer que neste feriado nacional, tirei o dia para socializar com o meu Chefe de Estado. Fui visitar o Palácio de Belém, mais propriamente os jardins. Pois a casa em si, não visitei grande coisa. Teria a sua piada, entrar pelo palácio e petiscar umas sardinhas assadas no pão no quintal do palácio com o Chefe de Estado e sua família: - "Oh Cavaquito! Põe lá mais sal nas sardinhas, que isto está insosso." :)
Tenho a dizer que foi uma tarde muito bem passada. O Palácio de Belém é sem dúvida muito bonito. Tem uma estatura muito digna. Uns jardins lindíssimos com umas fontes igualmente lindas. Apreciei muito as obras de arte que pelo espaço estavam expostas.
Desde o meio até ao final da tarde vários artistas tiveram oportunidade de actuar na entrada, mas já dentro do palácio. Músicos diversos numa mistura muito bem conseguida.
Vale REALMENTE a pena visitar o espaço.
Aconselho a qualquer um, português ou estrangeiro. Todos.
O único problema da tarde foi mesmo o típico problema de grande cidade, o trânsito e o estacionamento. O que vale é que andar faz muito bem :)
Ah é verdade, ia-me esquecendo. E a vista do jardim, SUBLIME.
O sorriso do teu olhar cativa-me,
A visão do teu riso fascina-me,
O calor dos teus lábios enlouquece-me,
A frescura dos teus cabelos surpreende-me,
O oásis do teu rosto agrada-me,
Teu corpo o mistério do meu alívio.
O teu ser seduz-me,
O teu mundo minha literatura.
por Nuno Lourenço
Thursday, October 4, 2007
Aproximas-te como se nada se tivesse passado. Com uma inocência estampada no rosto, olhas-me com espanto. Perguntas-me o que se passa, e de seguida confidencias-me que me desejas.
"Mas brincamos ou quê? Mas que merda vem a ser esta..." - respondo eu.
Perdoar??? Como é que pensas que é possível?
Quero que batas com o que fores capaz. Que de uma vez por todas digas o que há para dizer. Mas principalmente que os actos sejam a correspondência de um todo, e não apenas de uma parte.
Ceguei-me e deixei-me ir ao sabor do vento.
É costume haver discórdias entre desconhecidos.
by Nuno Lourenço
Tuesday, October 2, 2007
Espero ansioso,
o que há-de vir.
Passeio-me descalço
por entre espinhos.
Pensando e recordando.
Desejo-te ver como és
sobre este luar.
Caminhas até mim trémula
Parecendo não saber o que fazer,
Parecendo não saber o que querer,
Parecendo não saber o que deixar,
Parecendo não saber o que pedir,
Parecendo que não.
Semblante de menina
Querendo mostrar-se mulher.
por Nuno Lourenço