Adeus

Monday, October 8, 2007

 

A dor é imensa.
Cada vez que penso que me alistei para isto, a dor aumenta. Estou cansado. Esta guerra parece não ter fim à vista. Depois deste tempo todo já não me recordo porque viemos para esta terra combater. Os meus companheiros estão esgotados. Diminuem de cada vez que saímos para combate. O suor, o sangue e o cheiro já estão entranhados de tal modo que nem o banho consegue tirar. A moral nem sequer existe.
A arma pesa mais e mais. As mãos tremem como folhas ao vento. Não consigo segurar com firmeza nada. Nada faz sentido. Perturba-me a ideia de ter de sair para enfrentar o inimigo. A comida sabe a palha. A água queima a cada gole. Vou ter de ir mais uma vez, olhar para as vidas que extermino.
Despeço-me queridos pais, queridos amigos, pois sei que não vou voltar. Não vou voltar o mesmo. Não vou voltar como era. Não sei sequer se volto inteiro. Menos sei se voltarei. Só quero que termine, de uma maneira ou de outra. Quero ser livre outra vez. Quero ir comprar o jornal sem estar preparado para a confrontação. Quero que termine. Quero que termine.
Não me levem a mal por vos escrever assim. Quero-vos muito bem. Têm sido a minha força, o meu farol, o meu querer, a minha vontade. Não me levem a mal. Quero-vos muito bem.

Adeus.

by Nuno Lourenço

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