O silêncio - II

Sunday, September 2, 2007

 

"Com uma súbita confiança decidi entrar. Abro a porta até ser invadido por um aroma conhecido. Aroma perdido nas memórias de infância que se assemelhava aos bolos que a avó fazia. Entro com um sorriso nos lábios de satisfação, para um vazio branco que não permitia perceber o que se estava a passar. Decido então investigar, avançando pelo vazio. A cada passo que dava mais paz interior sentia. A alma era reconfortada com sentimentos disparados não sabia bem de onde. De repente vejo algo. Aproximo-me e para meu espanto é um espelho. Uma fina película que me apresenta o meu semblante, a minha figura miúda. Passo, o que me parecem ser horas, a maravilhar-me com o espelho. Fecho os olhos para descansar um pouco, ao voltar a abri-los o espelho não reflecte a minha pessoa. Não queria acreditar. O que vejo é a minha vida, acontecimentos documentados como se a arquivo histórico pertencessem. A medida que visiono vou ficando cada vez mais triste. Pois constato o desperdício que foi. Por fim vejo um corpo deitado no chão inanimado. Chego perto do espelho e comprovo que aquele corpo era o meu. Sou impelido a tocar no espelho. Ao entrar em contacto com o espelho o mais curioso sucede-se. Sinto o toque. Estupefacto, experimento por diversas vezes e sempre sinto o toque. Repentinamente sou retirado do vazio branco e volto ao negrume anterior e aí fico num total silêncio. Adormecido para todo o sempre."

by Nuno Lourenço

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