"A revolta era imensa, não se conseguia explicar. Pensamentos deambulavam pela sua cabeça à velocidade da comunicação entre os neurónios. Não conseguia explicar. Era mais forte, mais poderoso, tanto que se sentia numa pré-erupção vulcânica. A luta contra tudo o que acreditava colocava um túmulo no próprio ser, na própria existência. Como iria ele explicar o que fizera? Como iria ele admitir o que fizera? Como iria ele perdoar-se pelo que fizera? Para ele não existia salvação, não havia solução, não havia como voltar atrás. Apenas um caminho era possível. Ele nem podia imaginar como o teria de percorrer, mas apenas um caminho era possível.
A amiga do Fernando à já três semanas que não sabia nada dele. Cristina perguntava-se - "Mas o que pode ter acontecido?! Ainda no passado dia estava sorridente e satisfeito." - Ela não podia imaginar a cruel verdade. Ninguém poderia aceitar o sucedido. Simplesmente não havia justificação. Cristina e o companheiro João tinham um jantar planeado em sua casa com o Fernando e a mulher. Estavam a discutir o que iriam preparar para o jantar, o que teriam de comprar no supermercado para o poder fazer. Cristina sugere - "Podíamos preparar um daqueles pratos de sushi que eles tanto gostam?!" - João concordava com a sugestão, até porque seria a primeira vez que poria em prática os conhecimentos adquiridos no curso de sushi, que tirara nem duas semanas antes.
Os olhos de Fernando inchavam a cada vez que pensava no que fizera. A explosão de sentimentos era indescritível. Os olhos reflectiam bem os seus pensamentos. O vermelho dos olhos faziam-no parecer estar num estado de êxtase, como se sangrasse, mas sangue não havia. Todo o corpo estava hirto, as veias pareciam saltar fora, tal o modo como pulsavam sangue, tal o modo como sobressaiam do corpo de tão inchadas estarem.
A condução de Fernando era errónea, não controlada. O estado em que estava não permitia ter o discernimento necessário para correctamente circular na estrada. Finalmente Fernando chega a casa dos amigos. O carro pára frente do portão da casa da Cristina. Fernando apercebera-se que não se lembrava de como chegara a casa dos amigos. Era como se o carro tivesse piloto automático e soubesse o percurso a efectuar e o tivesse feito sozinho. Como era típico Fernando tocava duas vezes, seguido por uma pequena pausa e mais um toque. Cristina e João ficaram contentes com a chegada dos amigos. João pensava para si - "Hoje vou brilhar! Eles nem suspeitam que tirei um curso de sushi. Melhor nem acreditarão que a primeira refeição que fiz na vida foram estes pratos de sushi." - João era o típico personagem que reclamava sempre da comida. Conseguia sempre encontrar algo com que reclamar.
Cristina e João foram à porta com um sorriso de satisfeitos, de prazer, por estarem a receber tão bons amigos. Quando abriram a porta e viram o Fernando ficaram brancos, estupefactos, incrédulos e perplexos de espanto e surpresa. Fernando nem se apercebera de como estava vestido. Com tudo o que se passara nem tinha tido o discernimento de vestir algo. Fernando estava à porta com apenas uns calções e de tronco nu. Todo o seu corpo estava coberto de sangue, do rosto pingavam ainda gotas de sangue."
by Nuno Lourenço. A acabar...
Monday, July 23, 2007
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