Fell in love with a girl - I

Wednesday, June 27, 2007

 

"Estava eu sossegado e pensando com os meus botões. Divagava pelas minhas ideias, meus contentamentos. Preocupado com o meu mundo, sem notar quem passava ao lado, sem notar quem me chamava. Ponderava neste ou naquele assunto com a maior concentração. Questionava-me se seria verdade ou mentira. Respondia-me sim ou não. Tudo parecia perfeito, numa harmonia clássica, pitoresca. Presenteava-me com histórias inexistentes. Tudo parecia perfeito.
Nada mais foi o mesmo. Bastou um olhar. De um momento para o outro havia alguém. Um ser mágico vindo da terra dos contos de fadas para me acordar. Sim. Até esse momento andava sonâmbulo. Não queria acreditar. Esfreguei os olhos, apenas como reflexo, para comprovar que não seria uma miragem. Interessante que era aquele ser.
Num acto de puro desespero dirigi-me até ela. Que poderia eu fazer, interrogava-me profundamente. A resposta não poderia ser mais simples. Fazer o que de mais natural seria, ir ter com ela, falar com ela. Ah! Mas não é tudo tão simples e directo. Era bom que fosse, mas não é.
Queria chamar a atenção, despertar curiosidade, interesse. Então investi, despi a armadura que até então me protegia e arrisquei, avancei. O início foi atribulado, um deserto a percorrer para conseguir chegar ao oásis. Claro! Isso era o meu desejo.
Caminhei, caminhei, caminhei, e cada vez que vislumbrava um oásis o sentimento crescia. É certo que eram apenas miragens, ou talvez presunção da minha parte pensar que via um oásis. O certo é que o sentimento crescia, alimentado por uma vontade estranha. Tinha vida própria. Uma força avassaladora, vinda de não sei de onde. A dado instante desisti de resistir a tamanha vontade, entreguei-me. Atirei-me de cabeça e envolvi-me nesse sentimento, nessa paixão. Quis experimentar, saborear o néctar e gosto que essa paixão me proporcionava.
Tudo seria um conto de fadas.
Ela não estava assim. Enquanto eu me deliciava com as pequenas coisas, as grandes coisas, com isto ou com aquilo. Ela não estava assim. Não conseguia perceber como é que ela estava. Não entendia as suas vontades. Afinal não a conhecia.
Apaixonei-me e deixei-me ir na crista da onda, na vontade das mares, ao sabor do vento. Ceguei-me e fui atrás. Por fim vislumbro terra. Não sei se firme ou arenosa. Pelo menos é terra. Quero descansar, tenho o coração dorido. Doí-me o corpo, resultado de batalhas contra o inóspito e desconhecido. Quero descansar, doí-me o corpo. Quero descansar. Doí-me o corpo."

by Nuno Lourenço

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