Rosa (parte I)

Friday, February 22, 2008

Rosa não era o seu verdadeiro nome. Era o nome que ela gostava de usar quando saía. Rosa era uma predadora nata e detentora de uma sensualidade natural difícil de encontrar. Os homens não resistiam ao seu charme felino. Ela não se importava com a atenção que recebia, aliás, fazia de modo a que nenhum homem escapasse. Seduzir e brincar eram dos principais modos de comunicação com os homens. Muitas amigas invejavam-na por ela ter essa naturalidade. Muitas eram também as mulheres que não aceitavam nem o seu comportamento, nem a sua liberdade.
O mundo de Rosa era comum a muitas mulheres. O dia era passado no escritório onde tomava as suas decisões. Rosa trabalhava como advogada num conceituado escritório de advogados. O mundo dela era dominado por homens. Rosa era a primeira mulher a quem fora oferecida sociedade no escritório de advogados. O escritório, até à data da sua entrada, era um negócio de família. Os gerentes reconheceram nela capacidades pouco comuns, tendo demorado pouco tempo até receber a proposta de sociedade.
Rosa apreciava o que fazia durante o dia, mas era à noite que se sentia verdadeiramente livre, ela. Rosa frequentava um núcleo de amizade. Núcleo de amizade esse que exigia a quem o frequentava absoluto secretismo. O secretismo não era perfeitamente respeitado, Rosa conheceu o núcleo pela primeira vez através de uma "amiga".

por Nuno Lourenço

Aniversário

Sunday, February 17, 2008

As lembranças surgiam do nada, à velocidade da satisfação. Não tinha explicação, mas o que sentia era maior do que podia aguentar. Não existiam remorsos, não existiam dúvidas. Tinha a plena consciência da pessoa que era e da vida vivida. A alegria era natural naquele instante, como era também a tristeza. Ali de fronte daquelas pessoas recordava-se de acontecimentos passados, uns agradáveis, outros menos agradáveis, ou mesmo desagradáveis. Todos estavam ali por ele.

- Que noite! Que bonita noite está hoje. - disse ele.
- Perante vós, pergunto-me, "Que raio estarão aqui a fazer? Não terão nada mais interessante a fazer?".
- Sei que estão aqui para celebrar o meu aniversário. Sei também que estão aqui por afecto. E por essa razão agradeço-vos.
- Esta festa não é a minha festa. Esta festa é para vós.
- Agrada-me ter-vos aqui. Cada cara que vejo é uma recordação. Não tenho como dizê-lo em palavras, o quanto me sinto feliz por partilhar este momento convosco.
- A única maneira que tenho é, "Obrigado! Obrigado por terem partilhado a vossa vida comigo".
- Organizei esta festa, não para celebrar o meu aniversário, mas para celebrar o convívio entre os meus amigos e família.
- Obrigado.
- Agora música, e quero ver todos a divertirem-se.

Ao início ficaram espantados pelo discurso. Questionando-se se aquele seria o modo que ele tinha encontrado para se despedir deles. A verdade é que ninguém sabia. Nem amigos íntimos, nem família. Vendo-o divertir-se, dançando, e cantando, continuaram a divertir-se com a festa que ele organizara. Apenas uma. Apenas ela não apreciara o que ouvira. Estava convicta de que ele dissera mais do que fora dito. Ela temia o pior, que ele estivesse a esconder algo.
Cruzaram olhar. Ele dirige-se até ela. Enquanto atravessa o salão, seus olhos comunicam. Ele vê-a como flor adocicada que fizera brilhar sua vida. Ela teme que ele esteja a despedir-se. Suas mãos beijam-se, seus corpos cumprimentam-se, seus olhos dialogam, os lábios encontram-se naquela noite e o beijo é a certeza.

- Que estavas tu a dizer a pouco? - pergunta ela assustada.
- O que ouviste. - responde-lhe ele.
- Não. Estavas a querer dizer mais. Por acaso tens algo para me contar? - diz ela, já tremendo.
- Porque estás assim? - questiona ele - Não estejas preocupada. Não me vou embora. Não tenho nenhum problema.
Ela escuta-o, mas custa-lhe acreditar. Uma lágrima escorre-lhe pelo rosto. Ele beija-a na face, parando a lágrima.
- Sabes que és para mim importante! Que gosto de ti! - afirma ele. - Anda comigo. Precisas apanhar ar!

Ambos vão até à varanda. Daí era possível ver a lua. Estava lua cheia e o seu reflexo sobre o rio estendia-se até quase à varanda.

- Tenho tanto medo de te perder! - confidencia ela.
- Mas porquê? Estou aqui ao teu lado. Não tenhas medo. - diz ele, confortando-a.
- Prometes-me que se algo estiver mal... - diz ela.
- Cccchh! - diz ele - Não tens nada a recear. Eu amo-te! Quero-te! És minha mulher e não há nada que alterará isso.
- Obrigado meu amor. - retorquiu ela.

E assim ficaram os dois, na varanda, a música no fundo, observando a lua beijando o rio e sorrindo-lhes, cuidando o seu amor.

- Feliz aniversário. - diz ela.
- Beija-me, meu amor. - responde-lhe ele.

por Nuno Lourenço

Absoluta incoerência coerente

Monday, February 11, 2008

Na manhã seguinte esses mesmos empregados e contabilistas estariam no meio da multidão com as suas cabeças muito bem penteadas atiradas para trás, estonteados por não terem dormido, mas sóbrios e com gravatas a ouvirem a multidão à volta deles a perguntar quem teria feito aquilo e a polícia a gritar para toda a gente fazer o favor de recuar, já, no preciso instante em que a água corria para fora do centro partido e fumegante de cada um daqueles olhos enormes.
...
Os cabeçalhos:
Criado Perturbado Confessa Contaminar Comida.
...
E eu que costumava ser uma pessoa tão simpática.
...
O melhor tipo de colagénio é a tua própria gordura, chupada das tuas coxas, tratada, refinada e voltada a injectar nos teus lábios. Ou noutro sítio qualquer. Este tipo de colagénio dura.
...
Estou vestido. Enfio a mão no bolso e apalpo.
Estou completo.
Assustado, mas intacto.
...
Aqui em cima, nos quilómetros de noite entre as estrelas e a Terra, sinto-me como um desses animais do espaço.
Cães.
Macacos.
Homens.
Limitas-te a fazer o teu trabalhinho. Puxar uma alavanca. Carregar num botão. A verdade é que não sabes nada do assunto.

Os primeiros navios portugueses (século XV)

Monday, February 4, 2008

No princípio do século XV os portugueses utilizavam vários tipos de embarcações.

Barca
A barca mais simples tinha um casco de madeira achatado, um único mastro e veia quadrada. Possuia um leme lateral e era utilizada sobretudo na pesca e nas viagens para o Norte da Europa. As viagens para as ilhas atlânticas e para o cabo Bojador foram feitas em barcas que comportavam uma tripulação de vinte homens. Tinham leme à retaguarda e vela quadrada ou triangular. As velas triangulares permitiam navegar à bolina, ou seja, com ventos contrários.

Barinel
O barinel era maior do que a barca. Tinha um ou dois mastros, cesto de gávea e uma parte mais elevada à frente a que se dava o nome de castelo de proa.

Galé
As galés, de casco muito alongado, eram movidas a remos, mas também tinham um mastro com vela quadrada e cesto de gávea.

Fusta
As fustas, parecidas com as galés, tinham também remos, um mastro, vela quadrada, cesto de gávea. Eram muito utilizadas pelos mouros do Norte de África.