(PARTE I)
“As consequências dos actos estão contidas no próprio acto” - mencionou ela, enquanto esboçava um sorriso.
Ambos sabiam que por mais que lutassem, por mais que se esforçassem, a história iria irremediavelmente afeta-los. O medo do desconhecido era ao mesmo tempo aterrador e aliciante. A força que cada um trazia foi o que originou a faísca. Faísca essa que não era um fogo, mas sim, um mar e um céu. Os seus significados dependiam dos actores. Um vivia com uma passada forte, estável e seguro, sentindo bem a terra por entre seus dedos dos pés. O outro, estendia bem as asas para sentir o ar quente e elevar-se bem alto de onde conseguisse ver o horizonte. Ambos tinham um caminho sem nunca se cruzarem até então.
A sua história era tão comum, quanto era de extraordinária. Do céu acredita-se que se é livre. A verdade é mais cruel do que se consegue ver. O chão por sua vez, ajudava a enraizar a marcha. Afinal, seja a trote rápido, seja lento, era o sustento de todas as indefinições.
As asas nem sempre estiveram abertas e o vôo muito menos era ligeiro. No inicio eram como velas de barco. Fortes e potentes, permitindo deslocar-se como se flutuasse. A brisa quente possibilitava vôos mais longos para locais longínquos. Não foi até ser forçado para fora do ninho que a sequência de acções se tornara irreversível.
O primeiro bater violento para o precipício foi o momento menos assustador a enfrentar. Ao se projectar para o desconhecido, com uma crença inabalável, de fazer e poder tudo que valesse a pena, verificou que o que lhe tinham explicado, não era exacto. A emoção era mais do que uma característica. Era o que lhe originava o bater de coração. A faculdade de discernir a pequena subtileza, a pequena mudança. que era sentir, conferia-lhe a energia para olhar o horizonte com a mesma convicção que olhava a terra e o mar.
Era pouco antes do crepúsculo quando a emoção o desequilibrou. De frente a si, via outro ser voante a parecer. Incrédulo com o que observara, questionava-se o que teria acontecido. Afinal tinha sido esse ser que o ensinara a sentir. De inicio não ligara e não se preocupara.Bastaria um pouco mais de firmeza e uma boa corrente de ar quente para, novamente, se elevar e perscrutar o além. Sonhar com o desconhecido e o incerto era o seu maior e talvez verdadeiro, desejo.
Acreditando que nada de mais puro existia do que o sonho, viajou a muitos locais. Com relativa facilidade em se integrar, fê-lo reconhecer como era não só lícito, como deslumbrante, isto a que chamavam de “viver”. Aproveitou tanto quanto conseguia beber desta fonte de energia inesgotável. Nem sempre o plano era calmo. Teve, surpreendentemente, para a sua tenra idade, mais contratempos que imaginaria. Houve um momento em que se deixou ficar. Não se recorda por quanto tempo, mas foi o suficiente para se acomodar. A sua pureza de fé e de ideais, surgia como um ultraje a quem não acreditava mais. Devido a isso, acabara por sofrer. Uma vez mais mentiram-lhe. A emoção de perda não era agradável e relembrou o que se sucedera. Uma espiral de infortúnios, levaram-lhe, desde então, a olhar por cima da asa. Não descansava, nem confiava. Passou a fitar mais o chão, aquela massa estranha que debaixo dele pairava continuamente.
Uma luz negra aos poucos, ocupava o lugar que antes estava repleto de emoção. Por entre pingos do tempo, o seu bater de asas tornou-se pesado e desconfortável. Passou a fazer da sombra a sua companheira e confidente. Sem notar , e muito menos sem compreender, tornou-se sisudo, desconfiado e muito pouco dado a conversas. Os dias passavam e o seu voar, cada vez mais errante, levava-o para locais inóspitos e perigosos.
A dureza do solo é a primeira memória que diz ter. Mas afinal é a dureza e o cheiro. Desde que se recorda que adora sentir o sol dar-lhe as boas-vindas e o vento as boas-novas. As pernas, inicialmente trémulas, ganhavam cada vez mais certeza. Todos em seu redor ajudavam e presenteavam com novidades distantes. O inicio não fora muito conseguido. Poder-se-ia dizer que o livro ficaria sem ordenação nas páginas. Algo maior, no entanto, entendeu que não seria assim.
À medida que os instantes se sucediam, também a ligeireza do passo aumentava. A habilidade para que todos os momentos fossem agradáveis, atraía todos em seu redor. A conversa era fácil e a ocasião suficiente. As experiências eram em catadupa, como também os ensinamentos. A vontade de experienciar, de absorver, de conhecer, de sentir estava acima de qualquer outro.
De salto em salto, de esforço em esforço, o vento sorria-lhe, o sol abrilhantava o caminho e a chuva limpava a poeira das incapacidades. Sentia-se livre e aí prostrou a sua alma. Tinha especial interesse em observar o céu, sempre que o seu espírito se apaziguava. Questionava-se, muito raramente, como seria voar. Fitava, aqueles, que lhe pareciam seres mágicos e inacessíveis. Curvava-se quando rasavam a superfície. Tudo naquelas formas estranhas a fascinavam. Sem muito entender, notou que nem todos eram iguais. Mas aos seus olhos todos eram incompreensíveis.
Num tenebroso e cinzento dia, sentiu uns olhos no escuro a mirar. A curiosidade, genuína, de quem quer sorver tudo o que existe, origina uma verbalização - “Porque me encaras assim? Vem sentar-te a meu lado” - Nada. Silêncio apenas e um olhar que mais parecia fazer pontaria. Decidiu e aproximou-se. O que vira era surpreendente. Um daqueles mágicos seres, decidira pousar de perto. Deleitou-se e encantou-se com o requinte e perícia do que vislumbrava. Seguiram-se momentos de prosa e de prazer que arrebatavam o chão e faziam levitar. - “Estou a voar! Estou a voar!” - exclamou em viva voz. Nesse mesmo instante um medo avassalador, trespassou-lheo peito. - “Oh! E agora, como faço para voar?!” - Perguntou ao ser mágico. E uma vez mais nada… Silêncio aterrador...
Ao observar aquela dança à superfície, as suas asas abriram-se e esvoaçou até encontrar uma confortável posição para examinar o que se passava. Estava cansado e as suas feridas afligiam-no o suficiente para aceitar aquele descanso. Não entendia muito sobre dança, menos ainda sobre “estes bichos” do solo. Aceitou no entanto, que era ali que deveria permanecer.
O desejo e incerteza tomavam conta do seu bico. Não conseguindo mais conter, dispôs-se a comunicar. - “Olá! Porque danças tu?” - Num susto, fechou-se aquela criatura terrestre.- “Quem és tu? Estás aí há muito? És amigo deste outro ser?” - interrogou com voz austera. - “Desculpe! A que se refere? Cheguei há pouco e decidi descansar as minhas penas. Sou amigo de quem? Não entendo!? Está aqui outro terrestre que não veja?” - retorquiu num sereno, ao mesmo tempo que cuidava das chagas. -“Como? Estás a brincar? Este amigo atrás de mim!!!” - e foi nesse momento que ao virar, notou que o que ali tinha estado era um espelho
...
(FIM PARTE I)
Thursday, November 19, 2020
Monday, November 16, 2020
You just stood there screaming
Fearing no one was listening to you
They say the empty can rattles the most
The sound of your voice must soothe you
Hearing only what you want to hear
And knowing only what you've heard
You you're smothered in tragedy
And you're up to save the world
Misery you insist that the weight of the world
Should be on your shoulders
Misery there's much more to life than what you see
My friend of misery
You still stood there screaming
No one caring about these words you tell
My friend before your voice is gone
One man's fun is another's hell
These times are sent to try men's souls
But something's wrong with all you see
You, you'll take it on all yourself
Remember, misery loves company
Misery you insist that the weight of the world
Should be on your shoulders
Misery there's much more to life than what you see
My friend of misery (my friend of misery)
Misery you insist that the weight of the world
Should be on your shoulders
Misery there's much more to life than what you see
My friend of misery
You just stood there screaming, oh
My friend of misery, yeah, yeah, oh
by Metallica
Tuesday, September 2, 2008
A eternidade é o que tenho contigo. Estás em todos os momentos da minha vida. É uma estranha ligação esta a nossa. Não compreendo totalmente a interacção que temos. No entanto, nos momentos difíceis, nos momentos alegres, na tristeza, na felicidade, no meu primeiro filho, nas minhas conquistas, estás sempre ao pé de mim. Acompanhas-me em todas as aventuras da minha vida.
Procuro-te incessantemente, e no entanto, apenas surges quando queres. Escondes-te de mim, como receando o que possa encontrar. Talvez com receio da minha curiosidade. Acredito que seja para te protegeres, do quê, ainda não sei!
Situações há, que te vislumbro por detrás de mim, provavelmente, garantindo que nada me possa atingir. Outras situações há, em que me acompanhas, e ao meu lado moves-te. Suspeito que seja vontade tua de partilhares uma história. Por fim, situações há, em que a minha frente estás, mostrando-me por onde devo circular, apresentando os trilhos, os becos, mas sempre dando liberdade para escolher o meu destino.
Ao espelho olho e de ti nada. Frustrado fico quando não te vislumbro. A verdade é que te conheço, reconheço-te. E por mais que me convença disso, imperfeitamente é como te conheço. Numa luz ténue é como te reconheço. Pressinto-te e ao meu redor procuro, mas nada. De passagem é como a ligação. Não creio que seja uma jaula de interesses ou de afectos. Mas sim uma união inequívoca.
Manifesto, perante o mundo, que nutro por ti o maior carinho, compaixão, frustração, mas sem descurar o facto de que nunca terei contigo mais do que o que tu pretendes. Aguardo impacientemente o próximo instante que contigo possa desfrutar.
Até lá, persisto aqui expectante e curioso.
by Nuno Lourenço
Sunday, August 31, 2008
Poucos eram os que ficavam para observar. O aspecto rude, os contornos espinhosos, o formato não harmonioso como o restante, eram algum dos aspectos mais visivelmente salientados pelos demais, para o facto de não reparem.
O arbusto era dono e senhor de si mesmo, contente por si e pelos outros. Não queria saber da sua aparência, não queria saber da sua rugosidade.
Admirava todo o seu ambiente e feliz sentia-se com o que presenciava. Recebia o calor do sol e não se importava por não ser o elemento mais bonito, muito menos por não ser o alvo das atenções. Crescia livre e espontâneo sem se incomodar com os comentários, de quem passava, como também dos que o rodeavam.
Havia quem o invejava. A segurança transparecida é luz para os olhos de companheiros. Não interessava se verde era ou castanho, a verdade é que o arbusto comunicava com todos os que o rodeavam e, ocasionalmente, com os que por lá deslizavam.
Acontecia por vezes criar bons laços com os transeuntes. A comunicação era o que o arbusto mais prezava. Não interessava se era animal ou vegetal, o que interessava era a experiência. Viandantes de terras longínquas, tipicamente, quedavam perto do arbusto. Admiravam e conversavam entre si, deslumbrados com o fenómeno. Levando o conhecimento de volta para as suas terras.
Haviam homens e mulheres que por lá pairavam. Não admiravam nada, nem vislumbravam nada. A preocupação não era essa. A preocupação não era nenhuma. O arbusto não se incomodava com tal. Para isso, tinha crescido os espinhos. Protegiam-no e fortificavam-no. O arbusto não se sentia só, não se sentia acompanhado, sentia-se aprazido com o vento a assobiar boas novas e com o céu a trazer-lhe novidades ao ouvido. Tudo isto eram certezas que o arbusto tinha.
Um dia uma criança, fascinada que estava com o que via, pergunta aos pais - O que é isto? O que é aquilo no meio do arbusto?
Bem filho, isso não é um arbusto. Chama-se uma roseira. O que estás a ver são rosas. São bonitas filho. - responde a mãe.
A maravilha de quem não tem a mente moldada nem sabe o que vê, questionando tudo e todos, assim é a inocência de uma criança.
by Nuno Lourenço
Sunday, August 10, 2008
Plantas
Pimenta
Uma planta espontânea que existia na costa do Malabar, em Malaca e noutras zonas do Índico. Destinava-se a temperar e conservar os alimentos e era utilizada na preparação de medicamentos.
Cravinho
Flor de uma árvore semelhante ao loureiro que crescia espontaneamente nas ilhas Molucas.
Noz-Moscada
Cultivava-se nas ilhas de Banda, na Malásia. Utilizava-se como tempero e para preparar medicamentos.
Canela
Casca de planta espontânea nas ilhas de Ceilão e Java e na costa do Malabar. Utilizava-se como tempero e produto de farmácia.
Produtos extraídos de animais
Algália
Era um produto extraído de um animal semelhante ao gato que vivia em toda a Índia. Servia para preparar medicamentos e perfumes.
Almíscar
Era um produto extraído da pele de uns animais semelhante ao cabrito que habitavam o Tibete e a China. Servia para perfumes e farmácia.
Outros produtos
Do Oriente vinham também pérolas minúsculas a que se dá o nome de aljôfar. Eram «pescadas» no mar Vermelho, no golfo Pérsico e na costa da Pescaria, que fica no sul da Índia. Vinham ainda pérolas grandes, pedras preciosas, sedas e porcelanas da China.
Sunday, July 27, 2008
Never thought I'd see her go away
She learned I loved her today
Never thought I'd see her cry
And I learned how to love her today
Never thought I'd rather die
Than try to keep her by my side
Now she's gone love burns inside me
Now she's gone love burns inside me
Now she's gone love burns inside me
Nothing else can hurt us now
No loss, our love's been hung on a cross
Nothing seems to make a sound
And now it's all so clear somehow
Nothing really matters now
We're gone and on our way
Now she's gone love burns inside me
Now she's gone love burns inside me
Now she's gone love burns inside me
She cuts my skin and bruise my lips
She's everything to me
She tears my clothes and burns my eyes
She's all I want to see
She brings the cold and scars my soul
She's heaven sent to me
Now she's gone love burns inside me
Now she's gone love burns inside me
Now she's gone love burns inside me
Never thought I'd leave you like the way I do, yeah
Kiss my love and I wish you're gone
You can kiss my love and I wish you're gone
Never thought I'd leave you like the way that I do
Kiss my love and I wish you're gone
You can kiss my love and I wish you're gone
Now she's gone love burns inside me
Now she's gone love burns inside me
Now she's gone love burns inside me
by B.R.M.C.
Thursday, July 24, 2008
Imaginações e devaneios a parte o certo é que mais uma vez constato danos colaterais. Não deixa de ser curioso o facto de antes convencer-me que os actos pouco afecto tinham na minha pessoa, e no entanto, as consequências existem sempre. Curioso também são as pessoas. É simplesmente fenomenal como elas interagem com as diversas situações e quão diferentes é AINDA possível encontrar.
Num instante estamos em alta, como logo no segundo seguinte, já não estamos sequer em sintonia. Discussões à parte existe sempre mais do que um único ponto de vista. Isto é tão claro como o dia. Trivialmente se chega à brilhante conclusão de que são apenas duas mentes que naturalmente divergem. Ponto final. Sem grandes alaridos se verifica que são diferentes maneiras de pensar, como de "olhar", como de constatar... e por aí a fora.
Se um lado espera o outro desespera. Se um lado quer o outro rejeita. Se um lado diz gosto o outro detesto. Se um lado raciocina o outro aventura-se. Se um lado ama o outro odeia. Agora o que não é possível é dizer, sentir, fazer, querer, e a seguir ppuuufffff. EPA. Isso é que não. Foi mas deixou de ser percebo. Era mas agora já não é. Não entendo. Juro que não.
Não acredito no existe seguido do nada. Isso é palhaçada. Hipocrisia. Estupidez. Fraco.
...
Há muito neste mundo que trivialmente não entendo.
Como dizia o outro: "É para isso que cá andamos"
Tuesday, July 8, 2008
Discutir assuntos diversos, falar com quem quer que seja, independentemente do género, idade ou estatuto social. Apraz-me o sentimento que as palavras transmitem, que transportam.
Assuntos há que são mais difíceis de expor, exprimir, que outros. Por variadas razões, seja por não saber o que dizer, seja por não saber como dizer, seja pelas ideias não formarem uma linha de raciocínio.
Certo é que, por diversas razões, a expressão verbal dos sentimentos nem sempre é directa, menos ainda é clara. Certo é, também, que pela natureza da questão (sentimentos) tudo é suposto acontecer, tudo vale, nada vale, nada é suposto acontecer. São sentimentos. E como a palavra diz, são impressões, conhecimentos, experiências, sensações.
Fico-me por aqui... Estou sem saber o que escrever...
Thursday, May 8, 2008
Ouve-se dizer que com a velhice chega a sabedoria. Que a experiência vem com o fazer. Nada pode ser mais verdade. É bonito constatar que há mais do que um lado para as coisas. Só posso rir quando dizem "alhos" (tapar o sol com a peneira), quando é mais do que sabido que se está a dizer "bogalhos". - Uma pasta de soda cáustica e de água pode furar uma panela de alumínio. Uma solução de soda cáustica e água dissolve uma colher de pau. Cheira a vinagre e o fogo na tua mão no final da longa estrada apaga-se. Sentes o cheiro da soda cáustica a queimar a forma ramificada dos teus seios nasais, e o cheiro vomitivo a mijo e a vinagre de um hospital... - No final tudo acaba em bem. Pelo menos acaba. UFA...
Sunday, April 27, 2008
As representações da Terra que se faziam na Idade Média eram geralmente esquemas elaborados de acordo com o que vinha na Bíblia e tinham muita aceitação junto da classe culta - o clero. Havia dois tipos de esquemas: o planisfério de zonas e o planisfério TO.
O planisfério de zonas
O planisfério de zonas aparece pela primeira vez num manuscrito de Marciano Capella, no século XII. Era um círculo dividido em cinco zonas: duas frígidas, duas temperadas e uma tórrida. Outros esquemas do mesmo género apresentavam 7 subdivisões na zona temperada do Norte de de acordo com os tipos de clima, que se distinguiam pela duração do maior dia do ano.
Os planisférios TO
Nestes planisférios o oceano rodeava os continentes como um grande círculo, um O. E, julgando-se que só existiam três continentes - a Europa, a Ásia e a África -, estes apareciam separados por três braços de água que formavam um T. Era costume colocar Jerusalém no centro, por ser a cidade santa dos cristãos. Alguns incluíam também um paraíso terrestre que às vezes surgia no Leste da Europa e outras vezes no extremo da Ásia. Geralmente enfeitava-se o paraíso com as figuras de Adão e Eva.
Os livros de geografia e de viagens
Nos séculos XIII e XIV houve viajantes que se arriscavam a atravessar regiões onde não era costume circularem europeus. Integravam-se em caravanas e deslocavam-se para o Oriente, de uma maneira geral com o intuito de comerciar. Foi o caso de Marco Polo. Os relatos que depois faziam espicaçavam a curiosidade dos que tinham ficado calmamente em sua casa. E, para satisfazer a avidez de informações a respeito de terras longínquas e povos estranhos, procurava-se livros antigos. Estes, porém, ou faziam descrições muito limitadas ou se alongavam em descrições muito distorcidas. Assim, os homens do século XIV que se interessavam por essas coisas tinham a cabeça povoada de imagens magníficas, empolgantes, acerca de um mundo que não existia.
Nesta época recuperou-se a geografia de Pompónio Mela, do século I, que reunia ideias de autores anteriores como Heródoto e Estrabão. Dava indicações relativamente certas sobre a Península Ibérica, de onde ele próprio era natural, misturadas com outras "alegadas". Dizia, por exemplo, que o rio Nilo nascia numa zona fria do Sul e passava de um continente para outro através de um canal submarino.
Ptolomeu, o famoso astrónomo e geógrafo da Antiguidade, que tinha uma informação mais correcta acerca da Terra, era desconhecido nesta época. Só veio a ser recuperado pelos europeus no início do século XV. Outras fontes de informação foram os manuscritos de Solino, Santo Isidoro de Sevilha, Marciano Capella. No entanto as informações que continham e as que lhes foram acrescentadas eram bastante fantasiosas.
Os livros de maravilhas
Se os viajantes faziam relatos mais ou menos fiéis do que tinham visto, o mesmo não se pode dizer dos autores de livros de maravilhas! Estes deixavam a imaginação à solta e escreviam histórias contando viagens que ninguém tinha feito. Para descrever as terras imaginárias serviam-se de conhecimentos da época acerca de pessoas, coisas, plantas e animais, passagens de livros de geografia, e do produto da sua própria criatividade, o que dava origem a textos tão ricos, tão vivos e interessantes que os leitores não só acreditavam no que liam como gostavam de acreditar. Foi por isso que muitas ideias loucas tardaram a ser reconhecidas como tais. E mesmo
assim não morreram, pois encontraram o seu lugar nos contos maravilhosos para crianças. É o caso das montanhas brilhantes cheias de serpentes venenosas, das árvores que sangravam mel, das formigas que transportavam ouro, dos homens e mulheres com olhos no peito ou pés de cabra, das sereias, dos dragões, dos elefantes com inteligência humana, das árvores onde nasciam pássaros em vez de frutos, dos anões e gigantes.